Santa Maria

Desde criança tenho orgulho de ser de Santa Maria. De ter uma fala misturada - nem totalmente do interior, nem tão perto da capital. Sei muito desta cidade sol - coração gaúcho. Sei os Daudts, Jacques, Beltrões e o Veppo das ruas. Sei do comércio de ontem e vejo o dia de amanhã. Reconheço a poesia que caminha pela Acampamento em manhãs de minuano solitário. Sinto o sol ardendo meus passos em tardes de Calçadão. Tenho no corpo o vento norte que brinca com os cabelos do povo daqui. Na alma, tenho a estação que teima em morrer firme no final da Rio Branco, peleando por espaço e brilho nos dormentes. Tenho o sino na minha boca de santa-mariense, que badala sonhos, vivências, caminhos. 

Receptiva as mudanças, eu sou santa-mariense. Recebo de coração aberto todos os anos aqueles que veem ser felizes aqui. Abraço os que vão com nossa cidade encrostada na memória e no ser. 

Longe daqui, sempre fui Santa Maria. Aqui, sou campus, cesma, caposm, casas Eny, galeria Roth, Caixeral, sou Farrezão - sou a antiga rua do Comércio. Sou os que viveram aqui,  sou os vividos. Sou jovem. Sou estes jovens, estes 234 jovens que adormeceram aqui no coração do Rio Grande  no último dia 27 de janeiro. 

Desde criança tenho orgulho de ser de Santa Maria. Depois de ontem, 28 de janeiro, não cabe em mim a minha cidade. 


(Caminhada em homenagem aos jovens mortos na Boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013)

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