Caminos o/ou Do que somos feitos no Sul

Vitor Ramil conta no artigo "Estética do Frio" (http://www.vitorramil.com.br/estetica.htm#) que, certa feita, no escaldante Rio de Janeiro, via, pela TV, notícias do Sul, do frio chegando ao pampa rio-grandense. Sentiu, sorvendo seu mate e suando muitíssimo, que não era daquele espaço. Sentiu-se fora do lugar. Já me senti fora do lugar algumas vezes!

Quando vivi na Argentina, sentia algo estranho com relação aos brasileiros que viviam na mesma casa que eu. Eram meus compatriotas, mas compartíamos raramente gostos, costumes e falares. Estranho ser brasileira naquela situação de estrangeira com "os meus". Misturada aos argentinos nas calles de Santa Fe, no entanto, sentia-me parte. O mate sempre foi um elo interessante entre nosotros, del sur.

Nas calles uruguayas em um inverno qualquer, de frente para o rio, "lo mismo". Me Senti parte daquele frio gelado que abarca. O frio molda a nossa carne. Pertencemos ao frio e o frio nos pertence. Borges (apud Ramil) certamente tinha razão... o frio (esta arte do sul) é o que nos revela.

Foi talvez por lá, en las orillas del Plata, que senti conscientemente o que Ramil escreveu. Sou do Sul! E, em sendo do Sul, minhas identidades se apresentam com outros contornos geográficos. Meu mapa é outro. Me equilibro em outro meridiano. Meus trópicos são patas arriba. Sou muito mais parte de um território cultural compartilhado, muito além de questões fronteiriças de outros tempos e tratados. 

Em tempo de muros e fechamento de fronteiras, sou pampa aberto.





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