(ainda) sobre livros e (re)leituras

Eu sou uma leitora que se apega fácil e que sente saudade das leituras. Eu me apaixono fácil e morro de amores por elas. Estes dias, fui a uma livraria reencontrar Clarice Lispector. Fui invadida por uma necessidade absurda. Inexplicável. Eu precisava reler "A Hora da Estrela", precisava me encontrar nas frases inteligentes, sensíveis da autora. 

Clarice começa o livro com uma frase louvável, um verdadeiro convite para a leitura e para a vida: "Tudo no mundo começou com um sim". O sim nos leva a próxima página e a próxima e ao final do livro.

Há frases que são um livro todo. Há frases que nos permitem seguir lendo nossos interiores depois de fechada a portada do livro. Há, em meio a estes livros, autores e personagens que fazem parte da vida da gente, como um parente próximo.

Em "A Hora da Estrela", há períodos de tirar o fôlego. Há poesia entre os parágrafos. Há descobertas sobre nós...Em meio a leitura, descobri por que leio e escrevo tanto: puro desconhecimento de mim. "Vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino", assim declara o narrador. Assim somos nós, leitores de nós mesmos - livros em construção. 

Mas não é só com a Clarice que me acontece isso. Eu sempre preciso respirar fundo as palavras escritas, lidas. A primeira vez que me lembro de parar a leitura para ruminar meus pensamentos eu ainda era criança. Na adolescência, quando as leituras filosóficas invadiram minha cama, parei muitas vezes para me encontrar. Lembro que em Ecce Homo (Nietzsche) fiquei dias sem conseguir sair da frase "a consciência é uma superfície". Ainda me lembro dela e mergulho nos meus pensamentos. Se a consciência é uma superfície, como é possível encontrar as entrelinhas de nossas páginas mais profundas?

É preciso ter olhos de poesia para não se perder em meio a estes labirintos de linguagem(ns). É preciso ser Teseu e carregar novelos e novelos de lã por estas empreitadas interiores que a literatura nos proporciona. E, mortal que se é, é preciso ver além da prosa, é preciso sentir as palavras e ruminar os sentidos que há em frases como "a tristeza é uma alegria falhada" (Clarice Lispector, em "A Hora da Estrela").

É preciso se permitir! Boa leitura!

Google imagens (Teseu e o Minotauro)






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