Meus livros e suas histórias

Entre as histórias que me emocionam traço uma história paralela. É uma narrativa feita por mim, para mim. Coisa de quem tem um carinho especial pela obra, pelas obras, um apego material, uma dependência emocional, um amor inexplicável, inesgotável.

Meus livros são meus bens mais caros. São minha fortuna. São minha herança e o meu ciúme. São companheiros em meio as minhas crises existenciais, são minha companhia em noites de inverno, em noites de presença e em noites de solidão. Viajam comigo e viajo com eles. Nosso conúbio é entre nossas narrativas, nossas teias formada de palavras, espaços, tempo e personagens. 

Meus livros carregam uma história paralela escrita por mim.

Eu era adolescente quando comecei a escrevê-la.  Lembro que juntei um dinheiro para comprar meu primeiro livro de poemas. Fui ao centro da cidade e comprei uma versão barata dos poemas do Olavo Bilac. Me senti a pessoa mais rica e importante do mundo.

Eu já havia lido todos os livros da estante do meu pai. Conhecia a literatura do Rio Grande do Sul  e fazia incursões pela história. Mas livro meu, só tinha "História do Mundo para as Crianças", do Monteiro Lobato, livro que me acompanhou por muitas noites infantis, ao lado da cama e entre as mãos leitoras de meu pai. Eu já havia devorado os livros da biblioteca da escola, mas livro meu, livro comprado por mim, com meu dinheiro, eu ainda não tinha. Ainda hoje o livro de poemas do poeta das estrelas está em destaque na minha estante...

Foi nele que escrevi as primeiras frases desta narrativa não linear de meus livros. Esta história que pode ser iniciada por qualquer um deles e que levará a qualquer um dos mais de 500 que já habitam minha casa literária. Esta representação de minhas paixões, de meus sonhos, de meus desejos...cada livro traz um dado importante nas primeiras páginas, são indicações, vestígios de mim, de minhas facetas e minhas caminhadas. 

Escrita com todas as tintas, com todas as cores, estas narrativas permanecerão quando eu for apenas saudade, lembrança do que já não sou. Narrativas de mim, a história dos meus livros seguirão sendo linha e agulha para tecer o amanhã dos meus.. 
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