De leituras e processos antropofágicos

A leitura de Rubem Alves é sempre leve e prazerosa. Cada palavra tem um sabor, um som que envolve os sentidos do leitor, fazendo com que queiramos ir mais uma página e outra e outra mais. Consumimos o livro, inexplicavelmente... em pouco tempo!

Esta semana, após a morte do educador brasileiro, marquei novo encontro com seus temas educacionais. Em "Ostra feliz não faz pérola" (Editora Planeta, 2008), deparei-me com um texto que preencheu os sentidos de outros textos: "Antropofagia" (p. 124). Uma multiplicidades de vozes dentro de mim significaram cada linha, à moda Roland Barthes, à moda Oswald de Andrade, à moda Valdo Barcelos. 

Rubem Alves menciona: "escrevo antropofagicamente: quero que me devorem. Eu leio antropofagicamente: quero devorar aquele que escreveu". Para o autor, leitura, literatura é antropofagia

Na educação, o processo caminha por esta estrada também. É o que o professor Valdo Barcelos denomina de "antropofagia pedagógica". Nesta, buscamos os elementos, os ingredientes, os temperos necessários ao nosso fazer docente. Assim como Oswald de Andrade, que defendia um "tupy or not tupy that is the question", Valdo Barcelos orienta que não precisamos ir além das nossas fronteiras, de nossos trópicos, para buscarmos um rumo para a nossa Educação. Ele defende a ideia de que já é tempo de termos "coragem intelectual de começar a pensar por nossa própria conta e risco". É preciso que nos apropriemos de nossos intelectuais, destes que vivem e pensam esta terra Pindorama

Afinal, se "antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade"*, é preciso que a encontremos novamente, a fim de construirmos outro panorama educacional para este país. Que a leitura de Rubem Alves e Valdo Barcelos nos consuma...


*trecho do Movimento Antropofágico, de Oswald de Andrade, disponível em http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf


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