Já é tempo de evoluir para além do apego histórico
Como muitas famílias do Rio Grande do Sul, a minha participou por muito tempo de invernadas e patronagens dos Centros de Tradições Gaúchas. Meu pai foi patrão de CTG, minha irmã prenda juvenil, adulta, regional. No CTG, aprendi a declamar e a participar de eventos culturais. Li muito sobre a história e a cultura do estado, sobre os feitos que nos formaram enquanto tipo social sulino, porque para o pai, importante mesmo era saber o porquê se estava ali, o porquê se usava aquela indumentária e por aí vai. Na nossa casa, niilismo dos pampas nunca ganhou espaço. Ou sabia o que era ser gaúcho ou não participava da entidade.
Para além da entidade, na minha casa, assim como em muitas casas do Rio Grande do Sul, o respeito sempre esteve em primeiro lugar. Respeito ao próximo, às preferências (a todas!), ao indivíduo. Não nasci em um lar que não me orientasse para o bem e para o respeito ao direito primeiro - o direito humano.
O evento ocorrido recentemente em Santana do Livramento é triste. Incendiar um CTG por conta do espaço realizar um casamento coletivo em que abarca todas as realidades da nossa sociedade é lamentável. E logo em 11 de setembro, dia que marca historicamente a luta de nosso estado por "liberdade, igualdade e fraternidade". Em 11 de setembro, com estes ideais, Souza Neto proclamou a República Rio-grandense. Ideais estes que deveriam ser prática na casa de muitos não só no nosso estado, mas para além das nossas fronteiras.
Escutei, esta semana, que o Rio Grande do Sul, por conta dos últimos acontecimentos - o incêndio no CTG e o insulto da torcida do Grêmio ao goleiro Aranha, do Santos - está sendo conhecido como um estado racista e homofóbico. Propaganda negativa que só se reverte com educação. Mas não uma educação formal, de responsabilidade da escola. Uma educação na e para a família. Uma educação para o respeito, sobretudo uma educação humana.
Eu respeito muito a cultura do estado. Mas já é tempo de evoluir para além do apego histórico. É tempo de ser grande na forma de se relacionar com o mundo. Só assim "nossas façanhas servirão de modelo a toda terra".
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