Somos reféns das más notícias

Esta semana encontrei-me com Borges. Conversamos horas a fio sobre memórias. Contou-me o literato argentino sobre suas andanças e suas descobertas. Contei-lhe das minhas. Tomamos um mate, relemos o Funes e segui refletindo sobre miudezas cotidianas, como o fato do homem, por exemplo, sempre lembrar-se das coisas negativas, deixando de lado - incrivelmente - o que de bom lhe acontece.

Somos reféns das más notícias, das desesperanças. Nos fixamos nos fatos negativos. É uma epidemia geral. Não conheço pessoa que não se prenda a estas ruínas nem sempre necessárias. Somos personagens propícios a melodramas, a folhetins mexicanos. Firmamos contratos com a negatividade sem ler as pequenas notas.

Volta e meia vejo alguém contando que o chefe nunca lembra das tantas coisas significativas que o funcionário realiza, mas se o subalterno esquece de algo, está feita a lambança. Nunca mais esquece o chefe do mísero fato. O subalterno enfia a cabeça no problema e esquece das coisas boas também. Entristece.  

Se algo não vai bem no relacionamento, nos prendemos a este fato. Um véu inimigo de Mnemósine nos venda as memórias positivas, as coisas boas da vida. Criamos problemas, evitamos soluções. Entristecemos. 

No final no ano, tempo de limpar os estoques e fazer os balanços necessários, nos damos conta de que a bolsa do ano fechou em queda, no negativo. Viramos reféns das más notícias, das desesperanças. Nos infectamos com esta epidemia negativa e a única solução está na poesia. Na poesia vivida no dia a dia, no rolar das horas, no sorriso do rosto e na luz da caminhada.

Que dezembro seja iluminado, com tempo para semear esperanças!


Comentários

Postar um comentário