Reflexões sobre o viver - parte 5
Nós somos feitos de memórias. É impossível me ver hoje sem reviver meu tempo desfiado neste labirinto do minotauro que é a nossa história. Sou o que me propus viver, o que escolhi não vivenciar, o que me mostraram; sou as lembranças de outros e as marcas de outros; sou o que li e reli e o que ainda vou ler.
As últimas páginas do livro de Laura Esquivel ("Tan veloz como el deseo") me fizeram mergulhar no meu passado. Ler é isso - viver o que nunca viveríamos no espaço tênue ou profundo da uma narrativa. É mais - ler é reviver o vivido, é olhar para fora, para outros mundos, mas, também, para dentro de um universo nem sempre conhecido que somos nós.
Com o livro, pude recordar o quanto as palavras, a presença e o exemplo são fundamentais para a constituição do que somos, para a nossa educação. Meu pai, passados 23 anos de sua morte, ainda é meu maior exemplo, meu herói. Ele, assim como Júbilo, personagem central da obra de Esquivel, era radiotelegrafista e tinha uma doçura no comunicar. Meu pai era um homem de anunciar, nunca de reclamar. Comunicava para fundar a paz, jamais a desesperança. E se nós somos feitos de memórias e se estas fundam o que somos, marcam o nosso corpo - quero as palavras do meu pai marcadas em mim para a eternidade, porque - sim! - quero sempre ser uma voz que anuncia a alegria do caminhar.
"No sólo eso, mi padre habitaba a mi cuerpo, en el de mi hermano, en el de mis hijos, en el de mis sobrinos. Su herencia biológica y emotiva estaba presente en todos nosotros. En nuestra mente, en nuestros recuerdos, en nuestra manera de ver la vida, de reír, de hablar, de caminar."
"Eso es finalmente lo que vale, que alguien perdure en la memoria gracias al poder transformador de sus palabras. Por cierto, las que contenían mi mensaje eran éstas:
- Querida Chipi-Chipi, la muerte no existe, pero la vida, como tú la conoces, es maravillosa ¡aprovéchela! Te quiero por siempre. Tu papá". (Esquivel, pg. 194)
A literatura e nossos encontros... profundamente emocionada com a obra de Laura Esquivel.
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