Reflexões sobre o viver - parte 15: das coisas que aprendemos com a minha mãe

Eu cresci capenga. Aos 8 anos, meu pai despediu-se de nossas vidas em um final de ano caloroso no interior de São Pedro. Era final de tarde, tarde para violas, poesias, causos e pescarias. Meu pai estava morto. A mãe não teve forças para me contar. Pediu a um amigo. Ela tentava arrumar uma luz que a deixasse de pé em meio a terremoto que abalou a sua vida aos quarenta anos. Ficou imersa em si uns quinze dias, lembro bem. 

Não foi fácil aprender a viver só. O pai era seus (a)braços.  Ela, então, buscou em nós todos os motivos para seguir em frente. E foi. Passo a passo foi construindo o caminho. Hoje, diferente da mulher de quarenta que insegura não sabia que caminho tomar diante das dificuldades da vida, a mãe decide a própria história. Reconstrói as suas andanças, (re)significa a vida, diariamente. 

Com ela aprendemos que a vida provoca abalos sísmicos inolvidáveis, mas que  precisamos sempre lembrar que dentro de nós há um "kit sobrevivência", pronto para nos auxiliar nas intempéries. Aprendemos que há amigos leais que nunca nos abandonam e que há pessoas que simplesmente desaparecem de nosso círculo. Aprendemos que a vida não espera que os nossos sonhos batam à porta, que é preciso buscá-los, construí-los. E nós sempre fomos incentivamos a correr atrás deles - com amor e responsabilidade. Com a mãe aprendemos a organizar a vida - econômica, administrativa e afetivamente. 

Eu cresci capenga, sim, mas com a mãe aprendi a me equilibrar em uma perna só. Sobrevivi a muitas intempéries também - e vou sobreviver a todas as que provocarão em mim pororocas e quedas d'água. Com a mãe, aprendi a ser forte, criei resistência no corpo e uma coragem na alma. E tenho aprendido - na roda da vida - a me manter em paz, feliz com as minhas descobertas.








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