Reflexões sobre o viver - parte 23: do tempo e sua covardia

O semestre se despede com uma avalanche de trabalho. Consome minhas últimas pilhas, me leva adiante com sua pressa sem me deixar piscar os olhos, olhar em volta, respirar fundo, sorver os minutos, ter calma, estar viva e saber disto. Meu relógio não aguentou a pressão, despediu-se de mim para férias sem prazo pré-estabelecido. Disse adeus e me deixou um recado: o tempo se esvai. E se esvai mesmo... 

Eu ando carente de mim, carente de me perceber vida e vivente entre os meus. Eu ando cheia de formulários, protocolos e datas marcadas. Eu ando cheia de leituras obrigatórias e pouco me sobra para o prazer de ler os livros silenciados ao lado da minha cama, de me consumir e viajar por entre estradas imaginadas. Eu ando carente da escuta. Imersa em coisas para fazer - não escuto os passos pela casa, sua poesia e as notícias que batem à porta. A correria tampou os meus ouvidos como uma forma de sobrevivência. É uma necessidade de estar concentrada em mim para não sucumbir a onda que vem atrás - forte e avassaladora como um tsunami.... 

Eu ando carente de mim, de me descobrir com tempo de sobra para as escolhas (as minhas!), para os jantares em família, para as conversas demoradas - olhos nos olhos, boca no ouvido, mãos nas mãos. Ando carente de caminhar sem pressa. De viver cada minuto. O meu tempo é um presente que ando jogando fora...

O semestre se despede com uma avalanche de trabalho. No rádio, Alejandro Sanz canta... "Miras el reloj, faltan 10 y piensas: ¿me da tiempo? (...)Mira cómo corre, qué cobarde es el tiempo".

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