Reflexões sobre o viver - parte 25: de mim e da fronteira
Sempre gostei da fronteira, da ideia de fronteira imposta pelo Estado, ideia esta (quase sempre) impraticável nos espaços fimbrios do extremo sul do Brasil. Eu sempre movi meu olhares para a fronteira, para esta linha que nos aparta do que somos para nos encontrarmos no que não somos. Sempre estive entre o lá e o cá - costurando o espaço desta terra que para os meus olhos é "uma terra só*".
Na infância, eu buscava no rádio de pilha sintonizar o meu tempo com o tempo dos meus antepassados. Sorvi canções e programações em espanhol, rocei meu léxico na língua do outro. Me "interculturei"!
No Mestrado, sedenta por borrar linhas divisórias, encontrei a obra de Aldyr Garcia Schlee. Fronteiriço de Jaguarão (RS), vi na literatura criada pelo autor palavras para minhas percepções. O narrador de Schlee (e o próprio autor em seus depoimentos) observa a fronteira como quem faz parte, como aquele que construiu a sua identidade não no "eu", não no "outro", mas em um "nosotros". Para Schlee o outro lado da linha é parte do que somos. Para o autor a fronteira - ainda que marcada por um rio, por uma ponte, pelos trilhos do trem - é "Uma Terra Só".
Eu não nasci na fronteira, mas cresci com olhos fronteiriços, olhos que não atentam para marcos, para barreiras. Meus olhos são fluidos, híbridos, são nosotros. Sempre gostei da fronteira. Sempre estive entre o lá e o cá...
* obra de Aldyr Garcia Schlee
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