Reflexões sobre o viver - parte 27: sobre o "Sul", de Marenco e Sérgio Carvalho Pereira

Eu não sou crítica musical, mas vou arriscar aqui a dar minha humilde opinião sobre o projeto poético-musical "Sul", idealizado por Luiz Marenco e Sérgio Carvalho Pereira. Inolvidable, eu diria - para empezar minha incursão por território desconhecido. Eu que sou de poesia (no nível da palavra, apenas) nunca tinha presenciado tamanha riqueza pelos palcos do Rio Grande. É claro que ainda encontramos qualidade em verso e voz pelo cenário da música regional, mas o "Sul" vai além. É um passo más allá. Ao contemplar o espetáculo, pude ver o "Sul" como um projeto que apresenta a nossa cultura através da campanha. Diferente de "Estética do Frio", do Vitor Ramil, por exemplo, que vai caminhando pela cidade em direção aos abraços interculturais que damos. Com Ramil, nós nos apresentamos nosotros, meio irmão, medio hermano. O "Sul" de Marenco e Sérgio Carvalho inunda a campanha, revela-se nela - campo, coxilha, vento, banhado e silêncio. Com eles, somos o gaúcho representado na calmaria da milonga, em cada acorde, em cada galpão de estância. O "Sul" faz as pazes com o gaúcho que já não vemos, que já não somos para além das porteiras do Rio Grande.

No palco do show, instrumentistas de tirar o chapéu. Gaita, violão e baixo acústico fizeram o elo entre a voz do artista e a palavra do poeta. No palco, o poeta Sérgio Carvalho apresentou-se ao público, coisa rara na música do Brasil, onde o artista da pena nunca ganha a notoriedade que merece a sua autoria. Impressionou-me o "Sul" nisto também. Foi a primeira vez no cenário gaúcho que vi o poeta ter reconhecimento pela sua verve. Fiquei emocionada.... 

Eu não sou crítica musical, mas vou arriscar aqui a dar minha humilde opinião,  minha humilde impressão a partir dos acordes e poesia de Marenco e Sérgio Carvalho: a dificuldade do nosso sul ser reconhecido pelos outros pagos deste Brasil não é apenas uma questão linguística! É preciso ser campo e ruminanças para inclinar-se para este processo intercultural. O corpo do resto do Brasil não está preparado para o "Sul" e suas invernias... o seu silêncio... a sua melodia. 


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