As memórias



Cada um vivencia a morte a sua maneira. No México, por exemplo, de 31 de outubro a 2 de novembro, há celebração para "el día de los muertos". Sim, celebração! As pessoas preparam um altar com flores, velas, adereços (muitas caveirinhas) e preparam os alimentos preferidos de seus antepassados. Acreditam os mexicanos que, no "día de los muertos", os espíritos de seus familiares vem visitar os que ainda padecem na esfera terrena. É dia de festa, de alegria!

No Brasil, por sua vez, o dia de finados é dia (meio) fúnebre, de visitar cemitérios e colocar flores em seus jazigos. Há cemitérios, como o que está enterrado o cantor gaúcho Teixeirinha, que há música, muita música para alegrar a visita dos vivos. Há outros que levam pequenas orquestras para desanuviar a atmosfera com música clássica.

Para mim, desde os 8 anos, o dia de finados sempre foi um dia triste em que eu tentava (mais uma vez) superar a ausência do meu pai. Passados tantos anos de sua morte, ainda não compreendo como é possível  - dia a dia - viver sem a presença maravilhosa de sua alegria. Era faceiro o meu velho! Era meu parceiro de histórias e de pescarias, de descobertas e planos para o futuro. Ele entendia a minha alma como ninguém. Eu ainda escuto os seus ruídos pela casa, sua risada estampando a boca de meu irmão - tão parecido com ele. Mas é, sobretudo, na minha estante, que marco nossos encontros diários. Os livros sempre foram nossa paixão compartilhada! 

Meu pai foi um homem admirável! Destes que passados anos não se consegue esquecer. Sentado na sua mesa de trabalho, onde advogava, escrevia poemas, textos críticos sobre literatura e cultura gaúcha e canções que abriam as janelas da alma. Escrevia comigo no colo e me iniciava nas artes das letras. Acho que ele sabia que na (e com a) escrita e na (e com a) leitura, sempre estaríamos juntos. "E assim nos permanecemos"!

Deve ser por isso que quando penso, hoje, o feriado de finados penso em vida. Penso nas memórias que me fazem ser neste exato momento aquela que escreve esta crônica semanal. Penso nas minhas superações, nas minhas conquistas, nos meus projetos futuros, nas minhas falhas e nas marcas que quero deixar pelo caminho. Estas marcas podem ser uma eternidade e uma presença importante para alguém...afinal, cada um vivencia a morte a sua maneira.

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