Em tempos de leitura e humanização

Esta semana duas obras muito interessantes tomaram conta de minha leitura: "A arte de amar", de Erich Fromm, e "A Cabeça bem-feita", de Edgar Morin.

Nesse clássico da filosofia humanista, Fromm abarca de forma muito simples e clara aspectos significativos relacionados ao amor. O amor e suas dificuldades, inclusive a de saber-se amar, a de deixar-se amar. Discorre ele que "apesar do profundo anseio por amor, quase tudo é considerado mais importante que o amor: o sucesso, o prestígio, o dinheiro, o poder - quase toda a nossa energia é empregada em aprender a alcançar esses objetivos, e quase nenhuma em aprender a arte de amar" (Fromm, p. 7). 

Em uma leitura inicial, me parece que o que Fromm reflete vem ao encontro das ideias de Humberto Maturana, na medida em que no pensador chileno vemos o amor não como um sentimento, mas como um o reconhecimento do outro como verdadeiro outro na relação. Aprender a amar é aprender a respeitar o outro. Premissa tanto em Maturana quanto em Erich Fromm. 

Para Maturana, há ainda uma outra questão em se tratando de amor. Para ele, o amor é um aspecto biológico do ser. Morin, a respeito disto, em "A Cabeça bem-feita", menciona: "o ser humano nos é revelado em sua complexidade - ser, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural. O cérebro por meio do qual pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão, com a qual escrevemos, são órgãos totalmente biológicos, totalmente culturais" (Morin, p. 40).

Sempre me inquietou muito que nos cursos de graduação o tema amor, (o tema) das relações, não fosse parte das discussões. Em áreas humanas, me parecia uma contradição este distanciamento. Em cursos de formação de professores, então, me parece uma contradição ainda maior. Evidente que, ao me referir ao amor, trago à baila os teóricos já mencionados neste texto e, também, o nosso grande pensador da educação, Paulo Freire. 

Eis que lendo Morin, me deparo com o seguinte trecho e tudo fica mais claro neste sentido: "Paradoxalmente, são as ciências humanas que, no momento atual, oferecem a mais fraca contribuição ao estudo da condição humana, precisamente porque estão desligadas, fragmentadas e compartimentadas. Essa situação esconde inteiramente a relação indivíduo/ espécie/ sociedade, e esconde o próprio ser humano. Tal como as ciências biológicas anula a noção de vida, a fragmentação das ciências humanas anula a noção de homem". (Morin, p. 41)

Diante disto, em meio as minhas leituras, cabe por fim algumas reflexões bem pontuais. Em termos humanos, precisamos ainda aprender muito. Em termos pedagógicos, educacionais  - ¡Qué se yo! ¡Un montón!




REFERÊNCIAS:

FROMM, Erich. A arte de amar. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita - repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.



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