De perdas literárias

As palavras silenciaram neste mês de julho.... silenciaram as memórias, os passos pela casa. As bibliotecas esvaziaram-se na ausência dos poemas vívidos que habitavam as estantes. Agora, só seres de papel e arte preenchendo os espaços entre os livros e os leitores. 

Já não há mais a possibilidade do abraço, só o ficcional, para sempre o ficcional. Já não há como esperar o próximo lançamento - só o póstumo, com fragmentos do não dito mas sempre em tempo de encontrar os olhos, os ouvidos e o coração de um leitor à espreita, na expectativa de mais um instante de felicidade. 

Eu me entristeço com a morte. Nunca fui sua amiga. Ela roubou muito cedo uma de minhas maiores alegrias e eu nunca a perdoei por isso. Neste julho, ela levou três alegrias das artes brasileiras. Fecharam-se três grandes bibliotecas na nossa terra. Foram-se os autores de prosa e verso - já não há mais estrada para Suassuna, Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves. O caminho apagou-se um a um nestas últimas semanas. 

É certo, no entanto, que outros passos - seguidores destes mestres das letras -  continuarão recriando suas estradas. É certo, também, que nenhum deles saberá recriar tão bem e com tanta propriedade os universos de papel que estes escritores proporcionaram a todos nós. 

Que a leitura continue nos unindo!

"Não tenho medo da morte. Na minha terra, a morte é uma mulher e se chama Caetana. E o único jeito de aceitar essa maldita é pensando que ela é uma mulher linda."
 (Ariano Suassuna) 

"Quando eu morrer, não soltem meu cavalo nas pedras do meu pasto incendiado: fustiguem-lhe seu dorso alardeado, com a espora de ouro, até matá-lo."
(Ariano Suassuna - No poema "Lápide"). 

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