De políticas e de amor

O homem é um bicho estranho mesmo. Volta e meia recheia a sua vida de expectativas, sonha e sonha com visões românticas extremas, espera ansiosamente para que seus desejos sejam atendidos na medida (exata) em que foram gerados e acaba sempre frustrado. É uma obsessão meio bovarista!

Isto! Bovarista! Como Emma Bovary que casou-se com Charles Bovary e após algum tempo passou a desejar outro amor. No adultério imaginou encontrar a liberdade e a felicidade sempre desejada. Ledo engano! A satisfação pessoal nunca foi um atributo da personagem de Flaubert. Assim como não é o estado de espírito de grande parte das pessoas com as quais tenho cruzado nos últimos dias. 

Na política ou no amor, as pessoas perderam o foco e a memória. Reclama-se do governo atual como se reclamava do anterior e do anterior do anterior e como, certamente, se reclamará do que está por vir. Reclama-se por um estado permanente de insatisfação da alma. Reclama-se, mas se olvida que escolha é um direito exercido por nós. E, insatisfeitos com nossas próprias escolhas, delegamos a responsabilidade de nossas decisões aos outros: eu não elegi o fulano, não votei do sicrano... 

No amor ou na política, as pessoas perderam o foco e a memória. Busca-se no outro a possibilidade da realização total, plena. Busca-se em vão, assim como fez Emma Bovary! Depositar a responsabilidade de nossas escolhas em outras pessoas, esperando destas uma correspondência total aos nossos desejos - é humanamente impossível, visto que ninguém carrega uma bolinha de cristal anexada aos seus arquivos pessoais. É uma obsessão bovarista!

É preciso, urgentemente, tomar consciência de que nossas escolhas - sejam elas quais forem - são nossa responsabilidade. Escolher viver da ideia platônica do amor no mundo das ideias é escolher frustrar-se constantemente. Escolher votos de protesto, votos que são a decisão  de uma insatisfação não fundamentada - é escolher frustrar-se ininterruptamente. 

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