"Un pajarito me contó que también estamos hechos de historias"*

Cada história "es una baldosita en mosaico del tiempo", escreveu Eduardo Galeano tempos atrás. E nós somos feitos destas memórias, somos cada pedaço deste ladrilhozinho costurado ao fluir das horas. A nossa identidade nada mais é do que este vivido, do que este experienciar do tempo, este acumular narrativas, de passado. Eu sou o que vivi em meio aos caminhos e descaminhos do meu caminhar.

Lembro-me  das pescarias à margem do Toropi. Eu era menina de subir em árvores e correr carreira com os piás da volta de casa. Era menina de buscar milho em lavouras e limões na beira da estrada. Era menina e tinha ouvidos ansiosos de escuta. "En la orilla del río", o mundo passou em palavras. Descortinou-se para mim nos versos iluminados do meu pai, que me ensinou a ver o mundo com olhos de esperança e amorosidade, encharcados de poesia, entre caniços e lambaris.

Narrativas. Pedaços do tempo que não se apagam de mim. Meu pai imprimiu nos meus ouvidos a sua presença eterna. Não sou sem ele. Ele não é sem mim. Nos descobrimos neste fluir do tempo, preenchendo nossas memórias passadas e nosso tecido imaginário de futuros. Nos perpetuamos. Nós somos e seremos sempre feitos de palavras, porque, como escreveu Galeano, "somos hijos de los días, hijos del tiempo, y cada día tiene una historia que contar. Porque estamos hechos de átomos, según los científicos, pero un pajarito me contó que también estamos hechos de historias".





*Eduardo Galeano

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