Reflexões sobre o viver - parte 18: das culturas

Estes dias deparei-me com um vídeo das conferências TED* que trazia a fala do educador paquistanês Ziauddin Yousafzai, o pai da tão conhecida Malala. A narrativa do pai de Malala faz pensar muito sobre a cultura, sobre as diferentes e as diferenças culturais que existem no mundo. Faz pensar que vivemos um mundo multicultural onde, na maioria das vezes, sobrepõem-se as ditas culturas hegemônicas as demais culturas. Faz pensar o quanto (às vezes) carregamos este discurso em nossas práticas como profissionais da educação!

O vídeo referido, em especial, abarca a realidade da mulher na sociedade paquistanesa. Para ser uma boa menina, nesta cultura, é preciso ser calada, humilde, submissa, aceitando sem questionar qualquer decisão tomada em seu nome. Questionar é romper com o imposto - é tornar-se desobediente. Malala é uma desobediente na sua cultura. Ela estudou, pode lutar por direitos  - os seus e o de muitas mulheres do Paquistão e para além de suas fronteiras. Malala rompeu com o ciclo imposto em seu meio - onde mulheres ano após ano reproduzem os valores,a obediência criada e imposta pelos homens de sua sociedade. O pai de Malala também é um desertor neste sentido. Ele colaborou para que a filha tivesse uma identidade, um nome e acesso à escola. Matricular uma menina paquistanesa na escola é, sim, reconhecer seu nome, sua identidade, é dar luz ao sonho, a vida. 

Ao pensar a multiplicidade de culturas - o multiculturalismo existente no mundo  -  é que me deparo com a seguinte reflexão: precisamos de mais relações interculturais. O mundo intercultural não sobrepõe culturas - ele convive com as culturas. As culturas em um mundo intercultural não se aniquilam - se respeitam, dialogam. Precisamos de um mundo onde o amor exista como uma prática de respeito ao outro como verdadeiro outro na convivência (Maturana). Na cultura de Malala, ela não existe como um outro legítimo. Ela, simplesmente por ser mulher, é rejeitada, não tem voz. Precisamos, definitivamente, de sociedades que valorizem o humano, que se humanizem. Precisamos de uma educação assim também!



*https://www.ted.com/talks/ziauddin_yousafzai_my_daughter_malala?language=pt-br#  

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