Alves e suas reflexões

Diante da leitura, já próximo ao fim do livro, me deparo com uma reflexão de Alves inspirada em Marx e no seu (nosso) capitalismo. Frente a essa, não há como não pensar no mal que o capitalismo faz para a educação das emoções, para os sentimentos que nos formam essencialmente como humanos. Para mim, é isso que nos distingue, que nos aproxima ou nos afasta do mundo - nossas emoções, o amor.


       "Quanto menos se comer, beber, comprar livros, for ao teatro ou a bailes, ou ao botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir, etc., tanto mais se poderá economizar e maior se tornará o tesouro imune à ferrugem e às traças - o capital. Quanto menos se for, quanto menos se exprimir nossa vida, tanto mais se terá, tanto maior será nossa vida alienada e maior será a economia de nosso ser alienado". (Marx)

(...)
Posso ter o mais fantástico aparelho de som e a maior coleção de CDs. O prazer dependerá de uma qualidade espiritual minha, do meu ser, uma sensibilidade para a música, que não pode ser comprada por dinheiro. É preciso que os sentidos sejam educados! O prazer e a alegria crescem de uma relação erótica com o objeto, isso que se chama amor. E essa relação não pode ser comprada. Cresce de dentro.

(...)
Veja o caso da educação. Os professores de "esquerda" têm medo da palavra amor e a julgam babaquice romântica. De fato, amor é coisa que a ciência não consegue pensar. Preferem, os professores, considerar-se "trabalhadores" que ganham pelas "mercadorias intelectuais" que produzem de forma competente, sob a forma de um saber. Como professor, produzo tal mercadoria que vale tanto. Ao assim pensarem o ensino, eles o inserem na perversa lógica dos "valores de troca". Valor de troca é uma "quantidade abstrata" que mora tanto num revólver quanto num jantar, e que permite essa  equação horrenda, base de todo o jogo econômico: X  jantares = Y revólveres. O prazer e a morte são a mesma coisa...

E em qual escola se gasta tempo na educação dos sentimentos? Bobagem. Isso é coisa da Feira da Fruição - não circula no sistema. O que importa é a Feira de Utilidades...(...) 

Ou seja, "quanto menos você for, menos você terá..."

Fonte: Google imagens

ALVES, Rubem. Variações sobre o Prazer - Santo Agostinho, Nietzsche, Marx e Babette. São Paulo: Editora Planeta Brasil, 2011 - pg. 130 e 131.

Comentários

  1. É... mais que a palavra, o sentimento de amor precisa ser tomado, desde sempre, como parte fundamental de qualquer processo de ensino-aprendizagem.

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  2. Tens razão! O sentimento de amor preciso estar presente em todas as esferas de ensino e de aprendizagem - seja na família, seja na sala de aula, seja na sociedade como um todo. Preocupa-me, no entanto, como este sentimento de fato vigorará em uma sociedade como a nossa, onde as pessoas olham apenas suas individualidades e interesses... Precisamos urgentemente de um mundo melhor e para isso precisamos, sempre, nos melhorar! Eu sigo tentando...

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