Entre um página e outra

Rubem Alves me surpreende sempre. Não é o fato dele dizer algo que eu me identifique, simplesmente. É o dito, o modo de dizer. Ele conversa comigo às duas da tarde com a mesma luz que invade minha madrugada  de silêncios agitados - nós nos adoramos! É incrível! Entre os meus dedos, dialogamos como se estivessemos em um café. Estamos em um café  - tem cheiro nossa relação. Tem sabor o nosso conúbio literário. É como encontrar um amor sem planejar e descobrir que ele gosta de comer a sobrinha da caixa de leite condensado, igualzinho você; como descobrir que brilho nos olhos contagia todas as espécies endurecidas - em mais ou menos tempo; como descobrir que as manhãs de domingo são quentes em todas as estações quando não se vive só. Rubem Alves é alguém que é bom ter por perto - nem tão perto que só haja ele, nem tão longe que se perca o olhar. 

Ler Rubem Alves é se propor a se olhar no espelho e conversar como nossa melhor companhia. É o psicanalista que nos guia com um fio de Ariadne pelo nosso caminho interior. Ao fim, somos Teseu no tesouro da leitura de nós mesmos. 


"Sabedoria:  não pode ser pescada com as redes que a ciência lança sobre o mundo porque não é lá que ela mora. Ela mora no corpo. Não vem de fora, porque não se trata de um saber sobre o mundo. Brota de dentro - como se fosse uma fonte. É o saber sem palavras do corpo sobre o seu próprio destino."

Variações sobre o prazer (2011) - pg. 74


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