O fim das variações e o seguir das reflexões

Quando iniciei a leitura da obra "Variações sobre o prazer", de Rubem Alves, já imaginava que o que me esperava a cada página era um reflexão sobre meus passos. Encontrei mais! Garimpando citações filosóficas, lapidando imagens poéticas cheguei a feliz conclusão de que precisamos (todos) educar o nosso olhar. Nós temos olhos e, na maioria das vezes, somos cegos. Somos, como coloca Alves, "castrados nos olhos" (2011, p. 174).

No entanto, de nada adianta educarmos nossos olhos e não educarmos nossos ouvidos. Para os ouvidos vale a mesma coisa. Vale para o cheirar, o degustar, o tocar, o viver. Meu sexto sentido me diz que as pessoas vivem pela metade devido a imposição do medo de viver. Eu também deixo de viver muitas coisas. 

Para mudar isto, eu tento educar os meus sentimentos, as minhas emoções. Nem sempre é possível filtrar as coisas - a frustração chega como um tsunami. Porém, frustrado, é preciso não ser carregado mar adentro. A razão para isso é simples - acalma o teu coração e desperta para o bem o que estava dormido em ti! Transforma-te em flor diante do atoleiro e aprende. 

(para completar a minha escrita, vou copiar um trecho de Alves da página 181 e 184)



"A fotografia é simples, apenas um detalhe: duas mãos dadas, uma mão segurando a outra. Uma delas é grande, a outra é pequena, rechonchuda. Isso é tudo. Mas a imaginação não se contenta com o fragmento, completa o quadro: é um pai que passeia com seu filho. O pai, adulto, segurando com firmeza e ternura a mãozinha da criança: a mãozinha do filho é muito pequena, termina no meio da palma da mão do pai. O pai vai conduzindo o filho, indicando o caminho, vai apontando para as coisas, mostrando como elas são interessantes, bonitas, engraçadas. O menininho vai sendo apresentado ao mundo".(p. 181)

"...e uma criança pequena o guiará" - Isaías, 11,6.

"Se colocarmos esse mote ao pé da fotografia tudo fica ao contrário: é a criança que vai mostrando o caminho. O adulto vai sendo conduzido: olhos arregalados, bem abertos, vendo coisas que nunca viu. São as crianças que veem as coisas - porque elas as veem sempre pela primeira vez com espanto, com assombro de que elas sejam do jeito como são. Os adultos, de tanto vê-las, já não as veem mais. As coisas, as mais maravilhosas - ficam banais". (p. 184)


Meu olhar é nítido como um girassol - ensinar e aprender são atos de amor, seja na profissão, seja na vida pessoal! Ser adulto é ser cego, proferiu Rubem Alves. É nas surpresas, nas descobertas, na entrega que somos. E se não somos, o que era para ser vida se torna ilusão.


Angelise Fagundes


Comentários

Postar um comentário