Ao Pacheco com amor...

Esta semana eu realizei um sonho de leitora, conheci o escritor José Francisco de Almeida Pacheco. Esta semana eu realizei um sonho de educadora, conheci o professor José Francisco de Almeida Pacheco. Pessoa simples, o Zé da Ponte abriu sua fala no 3º SENID (Seminário Nacional de Inclusão Digital), em Passo Fundo, com um convite ao diálogo. Diretamente nos indagou sobre as perguntas que teríamos para fazer a ele, porque ele não estava lá para dizer nada, mas para conversar conosco.

Eu sempre fui do diálogo. Inquieta, sempre quis me posicionar. Na escola, quando cheguei como professora, o que eu mais queria era poder dialogar, aprender em um sistema de compartilhamento. Conversar em um nível pedagógico - sonhar, planejar, realizar. Inúmeras vezes, durante a fala de Pacheco, eu desejei perguntar o porquê de tamanha falta de diálogo nos espaços de ensino Brasil afora: falta de diálogo entre os professores, com a comunidade, com os pais, com os alunos. Há um silenciamento que me angustia profundamente. 

Livre das verbas e das políticas governamentais, o Pacheco realiza o Projeto Âncora aqui no Brasil. Disse ele que cansou de ouvir dos colegas que o escutavam nas inúmeras falas que realizava pelo país que os sonhos que ele colocava em prática só eram possíveis em Portugal, no primeiro mundo. "Ora pois", então ele veio fazer educação aqui. Faz educação com a comunidade, com as pessoas. Na sua escola todos são bem-vindos a construir um espaço de interação e de aprendizagem mútua. É lindo de ver!

Contou ele que há quase quarenta anos, na Escola da Ponte, em Portugal, um aluno apareceu na escola todo desgrenhado, sujo. Ao chegar, o professor Pacheco indagou sobre o que havia acontecido com ele. O rapaz contou que no barraco que ele morava não havia luz e que durante a noite a irmã dele havia gritado muito, por horas. Pela manhã, quando o sol despontou, descobriram o motivos dos gritos da menina: os ratos haviam comido uma de suas orelhas. Diante da história de Nelson, o professor Pacheco disse ao rapaz que talvez tivesse sido melhor ele ter ficado por casa, já que a família precisava dele. O garoto, então, respondeu ao Zé da Ponte que estava ali porque precisava estar, porque quando saía de casa para ir a escola, sentia algo dentro do peito que mais parecia ser alegria.

Alegria... e disse tudo!

Durante mais de uma hora eu me emocionei inúmeras vezes com histórias como a do Nelson. Sonhei uma escola como a do Pacheco para os inúmeros alunos que já tive. Sonhei uma escola assim feita pelos meus alunos; que eles façam uma escola assim amanhã - uma escola de alegria, firmada nas relações humanas, no amor. Porque, já me contou o professor José Pacheco que o "professor não ensina o que diz, ensina aquilo que é". Que sejamos feitos de amor, porque "para a educação vamos por dois caminhos: ou por amor, ou por vingança. Ficamos por amor, o amor de Varela, de Maturana, de Freire - estes maravilhosos latino-americanos" (Pacheco).




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