Reflexões sobre o viver - parte 11: Como se faz um professor de língua estrangeira?
O caminho que o professor de língua estrangeira precisa trilhar para constituir-se como tal é bastante complexo, pois um professor não se forma da noite para o dia, sequer em cinco anos de graduação. A profissão docente exige um processo de eterna atualização para que o professor esteja apto a acompanhar este mundo em constante mudança, para que consiga ter e dar autonomia aos alunos, para que rompa com o ensino tradicional, ainda focado no preenchimento de lacunas com verbos em infinitas conjugações. O professor de línguas estrangeiras reflexivo, crítico, responsável e amoroso (FREIRE, 2011) não se constitui apenas no espaço sistemático da sala de aula da universidade. Para constituir-se como tal precisa vivenciar o exercício da prática docente. Unir teoria e prática em processos significativos e ininterruptos de reflexão.
É importante mencionar o que esclarece LEFFA (2006, p. 354) a respeito da docência: “formar o professor e não apenas treiná-lo”, eis o desafio de nossos espaços de formação. É preciso ir além da sistematização de conteúdos, é fundamental colaborar com a formação de nossos alunos na medida em que eles consigam compreender de forma clara “o motivo porque uma ação pedagógica é feita da maneira como é feita, ou seja, há uma preocupação com o embasamento teórico que subjaz a atividade do professor” (LEFFA: 2006, p. 355), afinal, é preciso reconhecer a docência como profissão e não como vocação, aspecto este também presente no exercício de constituir-se professor. Afora isso, segundo LEFFA (2006, p. 355), “quando formamos um professor não o estamos preparando para o mundo em que vivemos hoje, mas para o mundo em que os alunos desse professor vão viver daqui a cinco, dez ou vinte anos. (...) É alertar o futuro professor que o conteúdo que ele esta recebendo agora através dos livros é um conteúdo de valor temporário”.
Para formarmos um professor precisamos ampliar ao máximo a sua possibilidade de experienciar a docência. Com a resolução CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002, os estágios supervisionados passaram a ter destinadas para à prática 400 horas na grade curricular, a partir do início da segunda metade do curso. Embora seja já um ganho significativo à formação, a realidade não compreende este cenário. As atividades de ensino de língua espanhola na rede pública municipal e estadual, por exemplo, são de apenas uma hora semanal. Com apenas uma hora de atividade junto aos alunos o professor em formação não consegue desenvolver-se da forma como poderia, como deveria junto à universidade, frente a sua formação. No exercício efetivo de sua profissão também não consegue desenvolver práticas tão significativas, considerando este contexto.
Donald Schön (apud ANIJOVICH, 2014, P. 15) a respeito disto aponta um caminho oportuno. O autor propõe o “practicum reflexivo”. Este trata-se de um dispositivo que permite ao aluno em formação “aprender fazendo”, aprender a ser professor ante o ensino, aprende sobre o diálogo do professor com os alunos e com a própria prática, aprende sobre a reflexão a partir da ação. Para o autor, a prática docente pode ser ensinada e, consequentemente, aprendida, pois para Schön (apud ANIJOVICH, 2014, P. 15), um practicum “es una situación pensada y dispuesta para la tarea de aprender una práctica. En un contexto que se aproxima al mundo de la práctica, los estudiantes aprenden haciendo, aunque su hacer a menudo se quede corto en relación al trabajo propio del mundo real”.
Dessa forma, um possível caminho para o questionamento inicial deste texto – “como se faz um professor de língua estrangeira?” - seja o de que a formação do professor é um processo dinâmico de desenvolvimento pessoal e profissional e que, portanto, esta formação deva se dar no exercício mesmo de sua experimentação, sempre em um processo de ação e reflexão teórico-prático. A formação do professor de língua estrangeira (do professor como um todo) se dá no comprometimento consigo mesmo, com seus alunos (sempre projetos de vida!) e com a Educação.
Referencial Teórico:
ANIJOVICH, Rebeca (org). Las prácticas como eje de la formación docente.
FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 2011.
LEFFA, Vilson (org). O professor de Línguas Estrangeiras – construindo a profissão. 2ª Ed. Pelotas: Educat, 2006.
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