Reflexões sobre o viver - parte 13: das demoras

Na correria dos dias, deixamos de nos perceber senhores de nossa existência. Já não temos tempo para as rodas de chimarrão, para as conversas a beira dos muros, com os vizinhos, já não conhecemos os vizinhos. Já não visitamos os parentes nem somos visitados por eles. O tempo tomou a frente e se empoderou diante de nossas fragilidades. 

Eu ando cansada de não ter tempo. Ando carente do olhar nos olhos, carente das demoras. Saudosa de minha presença (e da dos amigos), já não me percebo em meio as tarefas diárias. Sumi atrás do tempo. Virei fumaça. Risco. Rascunho. Ausência. Em meio as atividades, já não degusto as minhas leituras. Elas são, muitas vezes, um passar de olhos pelo texto, uma efemeridade de informações. Já não assimilo, não rumino. Em meio as atividades, num ir e vir ininterrupto, vejo as minhas crianças (os meus sobrinhos amados) crescerem sem rodas de brincadeiras, sem pega-pega na frente da casa, sem carrinhos de rolimã, sem bolitas, sem esconde-esconde. O tempo nos roubou as suas infâncias... estão moços num piscar de olhos e já frequentam os bancos universitários! Correm... correm os nossos sobrinhos!

Eu ando cansada de não ter tempo. Estou carente, sim, de minhas demoras. De me cozinhar em banho-maria. Estou com cheiro de guardada. Louca para viver meu tempo, estou aprendendo a demorar-me. 
Demorando-me na livraria "El Ateneo", em Buenos Aires.

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