Reflexões sobre o viver - parte 14: o saber da amorosidade em educação.

A Educação foi tema central de minhas "ruminações" novamente esta semana. Estive elencando saberes necessários ao formador, ao professor de modo geral. Afora os já elencados pelos teóricos mais conhecidos no meio educacional (Tardif, Gauthier, etc) tentei chegar a um que, na minha leitura, possibilitaria a construção de outros caminhos para os espaços educacionais Brasil afora, em muitas (ou quase todas) etapas de ensino: o saber da amorosidade.

O amor a que me refiro aqui não remete ao amor romântico - criação da literatura e sonho (quase) sempre frustrado de muitos que idealizam na vida o que sequer nas novelas acontece. O amor a que me refiro aqui não é permissivo (nunca será!). Eu me refiro ao amor segundo Humberto Maturana. Para ele, o amor não é um sentimento, é um domínio de ações nas quais o outro é constituído como legítimo outro na convivência. O amor visto através da obra de Maturana é central na convivência humana. Se um professor desvaloriza a história de vida de um aluno, seu contexto, se desvaloriza o aluno como sujeito ativo no espaço relacional da escola - o professor não ama este aluno, não o considera legítimo na relação. A recíproca também é verdadeira. Se um aluno não respeita o professor, sua história, sua caminhada - não há amor, não há legitimação da relação, do outro neste processo. Uma escola que vê a todos e não percebe nenhum em suas particularidades não é uma escola amorosa. Sem amor, não há fenômeno social. Isto porque, para Maturana, o amor é fundamento do social e, em não havendo a aceitação do outro, na convivência, simplesmente o social não existe. 

Na educação, nos preocupamos demasiado com o ensino e com a(s) aprendizagem(ns). Ora focamos nossos estudos no professor, ora no aluno, ora no material didático. Poucas vezes centramos nossas investigações (e nossas práticas) no meio do caminho entre o ensino e a aprendizagem: a relação professor e aluno, aluno e professor. Educar-nos  - professor e aluno - para a aceitação e o respeito de si mesmo, que leva à aceitação e ao respeito pelo outro não é difícil, segundo Maturana. O que é preciso ser feito é fazer do espaço relacional - o conversar, o linguagear - um espaço em que não se negue o outro, onde não exista competição, um espaço para a (e de) reflexão. Para isso, porém, é preciso mudar completamente o que temos feito em educação desde sempre, pois se a Educação não leva o aluno ao conhecimento de seu mundo, do seu cotidiano, de seu fazer considerando o respeito e a reflexão como elementos primordiais, a educação não serve nem para o aluno, nem para o país - alerta Maturana. 


Precisamos experienciar o saber da amorosidade. Precisamos trazê-lo para nossa ação pedagógica, vê-lo como componente, como dispositivo para uma educação libertadora, menos punitiva e que proporcione ver no conhecimento de si e do outro e das coisa e do mundo um bem, uma riqueza, inúmeras possibilidades. 

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