Das frustrações

Eu ainda não havia ido para a escola quando tive minha primeira frustração escolar. Precisava de idade para habitar aquele universo de descobertas e eu era muito nova para sonhar alfabetos e palavras. Na dúvida de minha aceitação, decorava poesias lidas pela minha mãe. 

Aceita, frustei-me quando a professora da primeira não nos acompanhou para a segunda série. Ela foi maravilhosamente encantadora e não queríamos nos apartar de seu olhar de mãe amorosa. A professora Magna Porto foi professora que dava asas...

Na quinta-série, em uma escola maior, frustrei-me com a quantidade de cadernos, de exercícios, de professores. Poucos souberam cativar nosso coração moleque. Lembro-me da professora de matemática ensinando-me palavras novas, ampliando meu vocabulário juvenil. Ela disse, frente aos meus cálculos: xexelento, teu caderno é xexelento. Impossível esquecer esta palavra!

Na oitava, mudanças tiraram a professora Tânia de nossa aula. No ensino médio, literatura virou decoreba, filosofia não era para todos, matemática apavorava. Frustrações. Nesta época, sonhava com tempos melhores nos bancos da universidade. 

No entanto, em muitas aulas, esta escola de ensino superior reproduziu muitas frustrações vividas na educação básica. Frustrações na ordem do humano, fundamentalmente. E é incrível como o tempo passa e as coisas se repetem. Com a evolução humana, com tantas conquistas, o homem deveria ter amadurecido esta capacidade de ser gente. Mas eis que ainda vemos muito por ser feito no campo do humano, do demasiadamente humano (Nietszche). 

Para Rubem Alves, tudo começa com um ato de amor...ler, escrever, conhecer um novo idioma. É no diálogo que o amor acontece. Que este ano que inicia seja motivador para crescermos em muitos sentidos, para vivermos um conúbio com a vida, para dialogarmos nossas práticas com nossos discursos. Que as "férias  escolares" sejam tempo de reconhecimento do outro, como outro verdadeiramente humano em nossas relações. 

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